O tema de Édipo já fora ligeiramente mencionado na Ilíada e na Odisséia, compostas no século IX a.C., mas foi versado em poemas, por volta do século VIII a.C., na Edipodia, e transformado em peça teatral nos séculos VI e V a.C. por Ésquilo (525-556 a.C.), Sófocles (496-406 a.C.) e Eurípedes (480-406 a.C.). A mais famosa dessas versões é “Édipo Rei”, de Sófocles, elogiada por Aristóteles como uma peça modelo do teatro grego. Outros autores, com variações, abordaram o tema: na literatura, Seneca, Robert Garnie, Corneille, entre outros. Na música, Mendelson, Moussorgky e Stravinsky.
Sófocles nasceu em Colona, subúrbio de Atenas e morreu aos noventa anos. Aos vinte e oito, venceu um importante certame do teatro grego, do qual participou também Ésquilo. Presenciou a expansão do Império Ateniense, sob Péricles e sua decadência com a Guerra do Peloponeso. Participou da vida política de seu país, tendo sido tesoureiro e estratego de Atenas. Compôs cento e vinte e três peças para teatro, venceu vinte e quatro concursos e obteve o segundo lugar em vários outros, realizando uma tarefa inigualável, no teatro grego. Sete de suas peças chegaram até nós.
O Édipo que retratou, à diferença de outros heróis da mitologia, não triunfou pela força física, não tomou parte em nenhuma batalha, não é filho de deuses nem é distinguido no cenário épico por qualquer façanha especial. A ele não se elevaram altares nem são prestados cultos.
A genealogia conhecida diz que Cádmo (fundador de Tebas) e Harmonia eram pais de Polidoro, o qual, por sua vez, era pai de Labdaco, que, com sua mulher Nictis geraram Laio, pai de Édipo. Quando Labdáco, rei de Tebas, morreu, seu filho Laio tinha apenas 14 anos e era muito jovem para assumir os encargos de governar. Lico, seu fiel amigo, tornou-se regente do reino, mas foi logo destronado por Anfião e Zeto e o jovem, temendo ser morto por eles, fugiu para Élida. Lá, foi acolhido pelo soberano Pélope e apresentado a seu filho Crisipo, que por ele se apaixonou. Esse fato foi mantido em segredo, mas o filho do rei foi correspondido por Laio, em sua paixão. Quando o amor entre ambos foi descoberto, o tebano rapta-o e inicia Crisipo no homossexualismo. Ante o escárnio do povo e a vergonha do pai, Crisipo acaba por suicidar-se. Dessa forma, Laio privou a casa real de um herdeiro e iniciou o homossexualismo na Grécia. Ele, então, recebeu de Pelope a maldição de que não devia ter filho e que se o tivesse, a desgraça o atingiria, bem como às suas gerações futuras.
Quando, mais tarde, Laio voltou ao seu reino, lutou contra os usurpadores, retomou a coroa e desposou Jocasta, que, assim, tornou-se rainha. Estando ela grávida, Laio dirigiu-se ao templo de Apolo, em Delfos, para saber do oráculo o destino da criatura em gestação. O oráculo não lhe omite a verdade: o ser que Jocasta traz no ventre matará o seu pai e levará à ruína o palácio de Tebas. De volta, relata a profecia à esposa, e esta muito se inquieta.
Resumo:
Cádmo / Harmonia
Polidoro, pai de
Labdaco / Nictis
Laio / Jocasta
Édipo
Ao nascer-lhes um filho, desejosos de fugir à desgraçada predição, Jocasta manda um servo, Forbas, atirá-lo do Monte Citeron, tendo Laio furado seus pés e os atado com correias. (donde o nome Édipo, que quer dizer “pés inchados”). Esse servo, penalizado da criança a entrega – sem que o rei e a rainha de Tebas soubessem – aos pastores que serviam na casa real de Corinto e que, ocasionalmente, pastoreavam no local, e que o levaram para aquela corte. Como a rainha de Corinto – Mérope – não podia ter filhos, criou-o como se fosse próprio, com a concordância do rei Pólibo.
Édipo cresceu feliz, como felizes estavam, também, seus pais até o dia em que, numa festa popular ouviu de um bêbado sua verdadeira história, na qual ele, a princípio, não acreditou. Angustiado pela dúvida, interroga seus “pais” que desmentem a história. Mas ele não se convence. Resolve, então, consultar o oráculo de Delfos sobre seu futuro e deste ouviu o que lhe estava reservado: matar seu pai e casar-se com sua mãe. Acreditando-se filho dos reis de Corinto, resolveu fugir, para que a predição não se cumprisse, renegando tudo a que tinha direito. Dirigiu-se em direção oposta – Tebas – acreditando que assim se afastava da sina que lhe tinha sido reservada.
Depois de vagar a pé pela estrada, adormeceu no meio dela, atravancando a passagem, junto à encruzilhada de Megas, onde as rotas de Tebas e Dáulis se bifurcavam. Um dos viajantes – Polifontes – o interpelou bruscamente, desejando passagem para a caravana de seu amo, Laio, a qual constava de cinco pessoas e de um único carro, puxado por dois cavalos. Édipo, reagindo à maneira rude como foi abordado, agrediu-o, violentamente. Laio quis vingar o agredido e chicoteou o agressor, mas foi morto por ele, que ainda matou mais dois membros da caravana, tendo escapado apenas um, o qual contou a Jocasta o ocorrido, sem saber, no entanto, quem era o caminhante que praticara aqueles assassinatos.
Depois disso, Édipo dirigiu-se para Tebas. Com a morte de Laio, lá reinava Creonte, irmão da rainha Jocasta, que governava com ele. Uma peste assolava a cidade: as pessoas morriam, o gado definhava, as plantas secavam, por todos os cantos da cidade, havia gritos de lamento. À entrada da cidade estava postada a Esfinge – monstro que tinha cabeça e busto de mulher, corpo de leão, asas de pássaro, garras de leão, calda de dragão – que propunha enigmas aos passantes e devorava aqueles que não conseguiam decifrá-los e que fora mandada por Hera, mulher de Zeus, como punição aos antigos amores de Laio e Crisipo. O enigma proposto a todos que pretendiam entrar em Tebas, era: “Qual é o animal que tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três ao entardecer?”
Como Édipo decifrou-o, de pronto, respondendo: “O homem, que, na infância, arrasta-se sobre os pés e mãos; na idade adulta mantém-se sobre os pés; e na velhice precisa usar um bastão para andar”.
A Esfinge, desnorteada, propõe-lhe um segundo: “São duas irmãs. Uma gera a outra. E a segunda, por seu turno, é gerada pela primeira. Quem são elas?”. Édipo respondeu com acerto: “A luz do dia e a escuridão da noite”.
O destino tinha determinado a ela que morresse se algum mortal adivinhasse seus enigmas. Envergonhada com as decifrações de Édipo, a Esfinge atirou-se do alto do paredão em que ficava o Monte Ficeu, suicidando-se. Tebas regozijou-se e Édipo foi saudado como herói.
Como salvara a cidade deste flagelo, os seu habitantes fizeram-no seu soberano e foi lhe dada a mão da rainha Jocasta, conforme estava prometido. Creonte que era, então, rei de Tebas, associou-se a essa alegria do povo e entregou-lhe pacificamente o trono, como fizera espalhar por toda a Grécia que o faria, caso alguém decifrasse os enigmas da Esfinge. Com a rainha, Édipo viveu feliz por vários anos e com ela teve quatro filhos: Etéocles, Polinice, Ismêna e Antígona.
Os dois primeiros acabaram por matar-se um ao outro, em uma luta. Antígona tornou-se a filha dedicada que acompanhou Édipo depois de sua desdita. Ismêna, depois da tragédia, continuou em Tebas.
Mas, anos depois de sua chegada a Tebas, uma nova onda de infelicidade assolou a cidade. Novamente, as plantas secavam, o gado morria, as pessoas, famélias e doentes, definhavam. O sacerdote de Júpiter, da cidade, apelou a Édipo, que mandou Creonte, seu cunhado, a Delfos, saber do oráculo o que devia ser feito para salvar a cidade. Consultado, o oráculo de Apolo, que falava pela boca de Palas, vaticinou que tal desgraça só cessaria quando o assassino de Laio fosse descoberto e vingado. Édipo se propôs a faze-lo e a dar ao culpado a maior das punições então existentes na Grécia: o desterro. Na medida que investigava, as evidências de sua própria culpa vão-se acumulando, mas Édipo não se detém e segue avante. Faz, então, insistentes perguntas à Jocasta, sobre a morte de Laio.
Por incitação do Corifeu, é chamado à presença do rei um velho, já cego, chamado Tirésias, filho de Evero e da ninfa Cariclo, adivinho capaz de ver o passado e o futuro e de interpretar o canto dos pássaros. Chega, trazido por dois emissários, mas em vista da verdade que conhece, nega-se de pronto, a responder a qualquer pergunta e pede para ser mandado para casa. Édipo desconfia, então, de que o assassino que procura seja o próprio Tirésias e coloca em dúvida seus poderes. Encolerizado com a insinuação, revela a verdade: o culpado é o próprio Édipo. Este, a princípio, desconfia de uma trama entre Creonte e Tirésias para usurparem-lhe o trono e profere, contra o primeiro, uma sentença de morte. Jocasta põe em dúvida a sabedoria dos adivinhos e dos oráculos, citando para exemplificar suas idéias, que um oráculo houvera predito que Laio morreria pela mão do filho e, no entanto, ele havia morrido em combate, numa encruzi-lhada...
Édipo continua a investigar: Um emissário chega de Corinto e comunica-lhe que Pólibo havia morrido e que o povo o desejava como rei. Ele mesmo, então, pensa que como seu pai morreu longe de suas mãos, o oráculo não tinha realmente razão...
Para confirmar a falibilidade do oráculo, o enviado diz-lhe que ele nem sequer era filho de Pólibo, mas que fora recolhido por ele, de um servo de Laio, ao pé do Monte Citeron... Esse mensageiro identifica, ainda, o servo, já velho, que havia entregado a criança a serviçais de Pólibo. Ouvindo tal alusão, Jocasta entende toda a verdade e, depois de grande desespero, enforca-se. Édipo manda vir a sua presença o mensageiro que há muitos anos se condoera dele e não o atirara do penhasco, conforme havia sido ordenado. Depois de muita vacilação, este lhe conta a verdade. Édipo corre ao quarto para chorar sua desgraça junto à mãe-esposa. Ao vê-la enforcada, arranca um broche das suas vestes e com ele vasa os próprios olhos.
Esquálido, mendigo e cego, ele é banido de Tebas. Antígona o acompanha em seu longo caminhar sem rumo, até chegar à Colona, no burgo de Ática, governada por Teseu, onde encontra abrigo no templo de Euêmides e é, afinal, consolado por Apolo, - que predissera a sua sina – abençoando o lugar onde ele foi enterrado. Ismênia permaneceu no reino, disposta a salvaguardar os interesses do pai. Etéocles e Polinice abandonaram-no à própria sorte.
Depois da morte de Édipo, os dois filhos homens combinaram que se revezariam no trono e que reinariam um ano cada um, devendo o outro ausentar-se de Tebas, nesse tempo, para evitar disputas. Etéocles reinou primeiro e, ao final de seu período, negou-se a entregar o trono a Polinice que arregimentou contra Tebas os exércitos de Adrasto, seu sogro, na guerra que ficou conhecida como “Os Sete contra Tebas”, já que os exércitos de invasores eram comandados por sete chefes. Os dois irmãos acabaram matando-se mutuamente, numa luta. Creonte, que então assumira o trono, ordena que se prestem as devidas honras a Etéocles e que o corpo de Polinice seja deixado insepulto e sem honras, por ter ele se levantado em armas contra sua pátria. Antígona opôs-se a essa sentença e burlando a proibição do rei, prestou honras e sepultou o irmão, pelo que foi condenada à morte, pelo rei.
Depois de muita ponderação de Tirésias, o rei volta atrás em sua sentença e vai, pessoalmente, salvar a sobrinha condenada. Chega tarde: ela havia se enforcado. Diante disso, Heron, seu filho e noivo de Antígona, suicida-se com uma espada, levando sua mãe, Eurídice, a matar-se com um punhal.